quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Tópicos do escuro.

se hoje, quando fecho os meus olhos e o que vejo não é mais o seu contorno, é porque o que tomou conta foi a sua insensatez e o seu grande e próprio prestígio - que, por sinal, eu nunca me interessei.

então o que faço é deixar que o encontro das minhas pálpebras me proporcione a mais e
incomoda e sombria tranquilidade, para que assim consiga rejeitar o monstro que sozinha, eu mesma criei.

                               _____________________

 - hoje acordei com uma música na cabeça que não saiu da minha memória o dia todo. não lembrava de quem era, da voz e nem da maior parte da letra.

- passei a tarde aqui na bibiblioteca da escola, onde estou até agora... e nada.

- e foi quando o céu abriu, o vento bateu e como um puxar de fio de um nó, veio-me.

Poema

Eu hoje tive um pesadelo
E levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo
E procurei no escuro
Alguém com o seu carinho
E lembrei de um tempo

Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era ainda criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou consolo

Hoje eu acordei com medo
Mas não chorei, nem reclamei abrigo
Do escuro, eu via o infinito
Sem presente, passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim
E que não tem fim

De repente, a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio, mas também bonito porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu há minutos atrás

 ... e tudo desafroxou - se, meus amores!

sábado, 13 de novembro de 2010

(alento)


 
  O último poema

 Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

(BANDEIRA, Manuel)

as coisas podiam ser simples, ternas, ardentes, belas e puras, mas as coisas só parecem complicar...

sábado, 16 de outubro de 2010

épater le bourgeois

Ode ao burguês

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! O homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
Que vivem dentro de muros sem pulos,
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
"— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante!

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

Mario de Andrade
 
 
 
Hoje acordei meio engasgada!!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

canto de la mañana

Hipnosis - Carlos Páez Vilaró (http://www.carlospaezvilaro.com/casapueblo.swf)



Mis Amores
(...) ven a mí: mente a mente;
ven a mí: cuerpo a cuerpo.
Tú me dirás que has hecho de mi primer suspiro...
Tú me dirás que has hecho del sueño de aquel beso...
Me dirás si lloraste cuando te dejé solo...
¡Y me dirás si has muerto...!

Si has muerto,
mi pena enlutará la alcoba lentamente,
y estrecharé tu sombra hasta apagar mi cuerpo.
Y en el silencio ahondado de tinieblas,
y en la tiniebla ahondada de silencio,
nos velará llorando, llorando hasta morirse
nuestro hijo: el recuerdo.

Delmira Augustin
 
Nasció en Montevideo, en el seno de una familia burguesa descendiente de alemanes, franceses y porteños. Mujer de gran sensibilidad y sensualismo, asombró en Buenos Aires con sus libros de verso. Se enamoró y se desilusionó muy pronto, pues se separó en octubre de 1913, dos meses después de casarse. Murió al año siguiente asesinada por su marido, quien se suicidó a continuación.   

terça-feira, 5 de outubro de 2010

UNESP - FCLAr
Estou de passagem:
amo o efémero.

(Eugênio de Andrade)

...e é desse lugar que a vida me mostra quem ela é!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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Mestre Vento
Não cultivo a atração do abismo.
Nem busco de propósito o vôo.
Como resistir àquele momento
em que das geleiras do esconso,
por entre as gretas da gelosia,
surgem os chamamentos do vento
que põem abaixo todos os cálculos
de equilíbrio que engenhei um dia?

GALVÃO, Donizete. De Ruminações, 1999.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fala

Tudo será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será.
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade)

FONTELA, Orides. Poesia Reunida [1969-1996]. São Paulo: Cosac Naify: Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006

coisas boas na aula de poesia contemporânea!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

500 km



Tão longe e tão perto!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Vinicíus, Gardel e Piaff


"...Ah, não existe coisa mais triste que ter paz
E se arrepender, e se conformar
E se proteger de um amor a mais..."
                                 (Baden Powell e Vinícius de Moraes)

Quando a poeira parecia baixar, vejo você, ainda confundia-o com os grãos de areia.
Mas não era mais você, e nem eu era a mesma.
Agora, eu ouvia Gardel e você, Piaff. 
Foi a poeira...

Foto: Rua 5, Araraquara.

sábado, 12 de junho de 2010

enjoy the silence!!


Words like violence
Break the silence
Come crashing in
Into my little world
Painful to me
Pierce right through me
Can't you understand
Oh my little girl

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very
Unnecessary
They can only do harm

Vows are spoken
To be broken
Feelings are intense
Words are trivial
Pleasures remain
So does the pain
Words are meaningless
And forgettable

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very
Unnecessary
They can only do harm

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very
Unnecessary
They can only do harm

All I ever wanted
All I ever needed
Is here in my arms
Words are very
Unnecessary
They can only do harm

Enjoy the silence...

(depeche mode)

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pode. Nada espera,
mas do destino vão nega a setença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito
e por estas suplanta a natureza.

Se eu toda parte do tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Andrade, Carlos Drummond de, Amar se aprende amando: poesia e convívio de humor. Rio de Janeiro: Record, 2000.



enxaqueca, Drummond, Tiê... Tá! Tá tudo super bem!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

mis palabras...


Esse não já tão atravessado
soterrado no passado
Estancado sem perdão em minha mão
Que aperta forte essa vontade
Essa má sorte essa saudade
que conduz a solidão
Horas correm, transcorrendo os dias
Pelas vias que desviam
E deviam me ajudar ou resguardar
Mas o pensamento sempre volta
Desatento ao que me escolta
Ao que eu tento evitar
Ah! eu não sei se é vantagem
Com coragem de passagem
Te dizer que tens razão partir em vão
E te envolver na esperança
de esquecer essa lembrança
pra lembrar o coração.
Bruna Caram - Escolta
Foto: Poema XIV - Pablo Neruda.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

There is a light that never goes out

a cada dia que passa, as férias ficam cada vez mais longe.
e a cada dia que percebo isso, o dia insiste em não acabar!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Maio


Hoje quando ia para o campus, na minha caminhada de todos os dias, estava pensando sobre os significativos meses de maio que tive em minha vida, principalmente de três, quatro anos pra cá. E é impressionante como eles se mostram surpreendentes, seja pelo fim (de alguma coisa que durante um tempo estive totalmente entretida) ou pelo começo, forçado, depois do fim.

O fim, pra mim, hoje, só indica um novo começo. Sem lamentações!

Acho que talvez seja por isso que eu goste tanto de Grande Sertão: Veredas pelo significado da travessia, não importa como terminou ou começou, porque a gente aprende mesmo é quando estamos vivendo os acontecimentos entre o começo e o fim.

Maio já está quase no fim e ele já está me indicando um caminho de uma nova travessia, do meu jeito, com o meu começo...

quarta-feira, 19 de maio de 2010


Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na ideia do lugares de saída e de chegada.
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)

sábado, 15 de maio de 2010

Elegia


"... E sou meu próprio frio que me fecho
longe do amor desabitado e líquido,
amor que me amaram, me feriram
sete vezes por dia em sete dias
de sete vidas de ouro,
amor, fonte de eterno frio,
minha pena deserta, ao fim de março,
amor, quem contaria?
E já não sei se é jogo ou se é poesia."
Drummond - Trecho de "Elegia"

quarta-feira, 12 de maio de 2010


Trecho de Nada na Língua é por acaso: ciência e senso comum na educação em língua materna. Artigo de Marcos Bagno na revista Presença Pedagógica em setembro de 2006.


"...em contraposição à noção de "erro", e à "tradição da queixa" derivada dela, a ciência lingüística oferece os conceitos de variação e mudança. Enquanto a Gramática Tradicional tenta definir a "língua" como uma entidade abstrata e homogênea, a Lingüística concebe a língua como uma realidade intrinsecamente heterogênea, variável, mutante, em estreito vínculo com a realidade social e com os usos que dela fazem os seus falantes. Uma sociedade extremamente dinâmica e multifacetada só pode apresentar uma língua igualmente dinâmica e multifacetada.

Ao contrário da Gramática Tradicional, que afirma que existe apenas uma forma certa de dizer as coisas, a Lingüística demonstra que todas as formas de expressão verbal têm organização gramatical, seguem regras e têm uma lógica lingüística perfeitamente demonstrável. Ou seja: nada na língua é por acaso.

Por exemplo: para os falantes urbanos escolarizados, pronúncias como broco, ingrês, chicrete, pranta etc. são feias, erradas e toscas. Essa avaliação se prende essencialmente ao fato dessas pronúncias caracterizarem falantes socialmente desprestigiados (analfabetos, pobres, moradores da zona rural etc.). No entanto, a transformação do L em R nos encontros consonantais ocorreu amplamente na história da língua portuguesa. Muitas palavras que hoje têm um R apresentavam um L na origem:

LATIM PORTG.
blandu- brando
clavu- cravo
duplu- dobro
flaccu- fraco
fluxu- frouxo
obligare obrigar
placere- prazer
plicare pregar
plumbu- prumo

Assim, o suposto "erro" é na verdade perfeitamente explicável: trata-se do prosseguimento de uma tendência muito antiga no português (e em outras línguas) que os falantes rurais ou não-escolarizados levam adiante. Esse fenômeno tem até um nome técnico na lingüística histórica: rotacismo.
Esse é só um mínimo exemplo de que tudo o que é chamado de "erro" tem uma explicação científica, tem uma razão de ser, que pode ser de ordem fonética, semântica, sintática, pragmática, discursiva, cognitiva etc. Falar em "erro" na língua, dentro do ambiente pedagógico, é negar o valor das teorias científicas e da busca de explicações racionais para os fenômenos que nos cercam..."

Assunto bem discutido nas aulas de Variação e Mudança Linguística, Grámatica I, Morfologia, Sintaxe. Leitura e Produção de Texto e até nas aulas de Literatura... rs.
Mas calma lá, sem extremos!

sábado, 8 de maio de 2010

amor mal-adaptado

Cansei dos nãos mal-ditos,
da sede de querer-te e não ter-te,
desse seu freio, seu medo, seu bloqueio,
Não quero mais meu corpo sacudido pelo soluço,
Eu só quero o nosso amor em descompasso.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Às vezes a gente só quer trocar os sapatos...

Preciosidade

"De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto. Vastamente ela abria os olhos.
Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo precioso. Que não se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como uma jóia. Ela.
Acordava antes de todos, pois para ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. Como se sorrir fosse em si um objetivo..."
Lispector, C.
Aqui está um fragmento de um dos contos da Clarice que mais gosto.
Segue o link do conto na íntegra para os mais interessados:
é isso!!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

[sa.uˈda.d(ʒ)ɪ]


saudade - tema discutido em conversas de bar, encontros acadêmicos, rodas de samba, saraus, serestas. Por pessoas de todos os gêneros, todas as cores, todas as classes...

e como sou uma mera mortal, estou aqui, cheia de saudade do cheiro de casa, da roupa lavada, da pessoa amada, do "não-café" depois do almoço.

enquanto isso: fichamentos, resumos, seminários. Sandman, M. Laroca, J.L. Monteiro, A. Azevedo, E. Paratore, F. B. Carone, A.Tchekhov são as companhias da vez!

sábado, 27 de março de 2010

eu, eu mesmo e Drummond.


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se dia mais: meu amor
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficastes sozinho, a luz apagou-se.
Mas na sombra seus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer
E nada esperas de seus amigos.

Pouco importa velha a velhice, que é a velhice?
Teu ombro suporta o mundo
e ele pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as brigas dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados)eu morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mestificação.

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade.

Engraçado como nos encaixamos completamente com certo autores, compositores e afins!
Drummond, nesse momento, calhou perfeitamente!

... e o calor araraquarense continua.

terça-feira, 23 de março de 2010

Desvencilhar!



E é com João Cabral de Melo Neto que faço deste espaço um grito, um murmúrio, um desabafo!
"(...) O amor roeu a minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia os lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina no largo, com os primos que tudo sabiam sobre os passarinhos, sobre mulheres, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu o meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas que eu desesperava por não saber falar delas em verso (...)".


Trecho de Os Três Mal-Amados.