quarta-feira, 29 de setembro de 2010

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Mestre Vento
Não cultivo a atração do abismo.
Nem busco de propósito o vôo.
Como resistir àquele momento
em que das geleiras do esconso,
por entre as gretas da gelosia,
surgem os chamamentos do vento
que põem abaixo todos os cálculos
de equilíbrio que engenhei um dia?

GALVÃO, Donizete. De Ruminações, 1999.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Fala

Tudo será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.

Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.

Tudo será
capaz de ferir. Será.
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.

Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.

(Toda palavra é crueldade)

FONTELA, Orides. Poesia Reunida [1969-1996]. São Paulo: Cosac Naify: Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006

coisas boas na aula de poesia contemporânea!