terça-feira, 27 de abril de 2010

Às vezes a gente só quer trocar os sapatos...

Preciosidade

"De manhã cedo era sempre a mesma coisa renovada: acordar. O que era vagaroso, desdobrado, vasto. Vastamente ela abria os olhos.
Tinha quinze anos e não era bonita. Mas por dentro da magreza, a vastidão quase majestosa em que se movia como dentro de uma meditação. E dentro da nebulosidade algo precioso. Que não se espreguiçava, não se comprometia, não se contaminava. Que era intenso como uma jóia. Ela.
Acordava antes de todos, pois para ir à escola teria que pegar um ônibus e um bonde, o que lhe tomaria uma hora. O que lhe daria uma hora. De devaneio agudo como um crime. O vento da manhã violentando a janela e o rosto até que os lábios ficavam duros, gelados. Então ela sorria. Como se sorrir fosse em si um objetivo..."
Lispector, C.
Aqui está um fragmento de um dos contos da Clarice que mais gosto.
Segue o link do conto na íntegra para os mais interessados:
é isso!!

3 comentários:

  1. Este conto da Clarice é lindo mesmo, ótima sugestão!
    beijos

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  2. Quanta sensibilidade tem essa Clarice, né Lu?! (por isso, e por tantos outros 'quês' dela, que ela muito nos fascina!) Adorei a imagem, passa uma boa leveza!

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