sábado, 27 de março de 2010

eu, eu mesmo e Drummond.


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se dia mais: meu amor
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficastes sozinho, a luz apagou-se.
Mas na sombra seus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer
E nada esperas de seus amigos.

Pouco importa velha a velhice, que é a velhice?
Teu ombro suporta o mundo
e ele pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as brigas dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados)eu morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mestificação.

Os Ombros Suportam o Mundo

Carlos Drummond de Andrade.

Engraçado como nos encaixamos completamente com certo autores, compositores e afins!
Drummond, nesse momento, calhou perfeitamente!

... e o calor araraquarense continua.

6 comentários:

  1. Lindo! Este poema é maravilhoso. E a foto da Clarice Lispector então!
    beijos

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  2. Luuu, estamos seguindo o seu tbm agora!!

    tá mtooo massa!!
    beijos
    Cá!

    e que calorrrrr!!

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  3. bjo e link:

    http://www.desdecuba.com/generaciony/

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  4. engraçado é eu ler isso justamente quando drummond tem calhado tanto aos meus olhos.

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